Monday, September 25, 2006

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lembrei de outra (porque de sentir desgosto por estar lado a lado com gente de quinta categoria eu entendo).

incrível a minha capacidade (necessidade?) de prestar atenção na conversa alheia.
ouço tudo, entendo tudo. andando sozinha é melhor, mas mesmo quando em bando, com gentes conversando, interagindo, gesticulando, eu fico lá, de orelhas em riste, ouvindo tim tim por tim tim.

dificilmente escuto alguma coisa que preste. nem achar engraçado eu consigo.
consigo desgostar mais das pessoas, e puta merda, isso é como tirar doce da boca de criança.

mas quando eu miro numa conversa alheia, nem a vontade de socar os conversantes me ajuda a parar de prestar atenção.

hoje, no almoço, por exemplo.

as pessoas aqui insistem em sair pra almoçar de caravana. e não adianta você dizer: vou mais tarde, podem ir, encontro vocês lá. impossível despista-las. todo mundo se programa de acordo com o horário de quem é mais difícil se convencer. eu, normalmente.
aí vai, toda aquela corja de gentes almoçar e falar sobre o único assunto que eles (acham que) dominam e que portanto lhes dá um certo ar de superioridade sobre o resto do mundo: trabalho. um nojo.

daí que normalmente eu não presto atenção em ninguém mesmo. fico olhando a janela, ouvindo frases soltas de conversas em outras mesas e tudo mais. nada que me deixe mais feliz, mas pelo menos eu não sou obrigada a interagir com as outras mesas. eu levanto e acaba. elas levantam e acaba.

hoje eu dei pra ficar de ouvido numa mesa próxima. próxima demais eu acho, com pessoas pouco interessadas em levantar, falando alto - argh, gesticulando, coisas assim. e o assunto era a buzanfa da cicarelli, os peitos da cicarelli, a boca da cicarelli. nada mau até.
mas da buzanfa, dos peitos e da boca, o assunto pulou pra ética e a moral da moça. ah meu jäzzus, não tem coisa mais irritante que isso.

e eu nem acho que o mundo seria melhor sem a tal da fofoca, nananina. adoro uma, das quentes, de vez em quando. quem não? dar umas espetadelas, ouvir gentes babacas falando de gentes horríveis, dar risada da vida alheia. ora essa, sem isso os dias seriam ainda mais chatos. daí que de vez em quando a gente assiste novela mesmo, um reality show tôsco (a-do-ro), ou abre uma revista Caras no consultório médico. faz bem, nem disfarça que faz bem.

mas as gentes falam com tanta propriedade da vida alheia que eu tenho vontade de pular no pescoço. geram verdades absolutas a respeito dos outros de uma hora pra outra e saem gritando ao mundo o que sabem ou deixam de saber. toda hora, todo dia. (quase) todo mundo.
me dá desgosto. e eu nem sou fã da cicarelli porra, não tenho pena dela por nada - pelas conclusões a respeito da sua vida, pelos paparazzis, nada. quero que se foda.

tenho raiva das gentes. muita. um desgosto sem fim.

minha mãe me vem à mente, e é quando eu paro de pensar num caso desses com uma celebridade ou coisa assim. penso nas gentes comuns, feitos eu e você. que confiam em outra gente comum e se fodem tendo tudo criado a divulgado num piscar de olhos. uma vida baseada em três ou quatro frases.

eu sei lá. alguma coisa (será a gastrite?) me diz que eu devia tá bem longe daqui. porque eu nutro uma esperança de quem em algum lugar as coisas são diferentes.
em algum lugar o mundo não parece um seriado americano onde as pessoas falam pelos cotovelos. um lugar feito de silêncios, de gestos menores e de próprios umbigos.
porque eu sei que eu não devia me importar tanto com esse tipo de coisa. não me leva à nada (à úlcera talvez). mas elas explodem na cara da gente, sabe? seria como ignorar um belo murro no estômago. não dá.

enfim. bem que eu gostaria que a história toda se resumisse à Cicarelli, ao meu trampo, ou à minha mãe. mas não.

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lembra do meu professor de sociologia?

eu disse bukowski e ele entendeu dostoievski. aí eu corrigi, e ele agora acha que eu sou fã do maiakowski.

preciso colocar um filtro no meu e-mail. lixo pra ele, sem pestanejar.

quer me comer, o puto.

cotonete, por favor.

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ficção ou fricção?

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quando o tempo estiver cinza assim, vá ao cinema. dica de filme que não te deixa com raiva depois de ter pago o ingresso (com carteirinha de estudante, bem entendido):

"o que você faria?" - porque eu sinto vontade de abraçar os caras que fazem esse tipo de filme com sérias restrições orçamentárias.

e o canal + é surpreendente. vai fazer parte de todas as produções cinematográficas assim na putaqueopariu.

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