Monday, February 06, 2006

Nunca fui de admirar muitas gentes por aí. Se alguém perguntar de sopetão: "uma personalidade/ um ídolo/ uma merda qualquer", vai conseguir de mim uma cara de nojo e uma resposta cretinaprasoarengraçadinha. Jô Soares, pode ser.
Um dos problemas disso é que as gentes que perguntam esse tipo de coisa, costumam ser gentes que tendem a acreditar nesse tipo de resposta. E, pior, concordar. Céus.

Entonces.

Faz um tempo que eu leio um blog. Um rapazinho goiano e resmungão. Bem resmungão, do jeito que eu gosto.
Escreve bem pra caramba, ganhou um prêmio importante com um livro de contos tempinhos atrás e tem um bom gosto arretado.
(além do blog "pessoal" escreve nuns sites de cinema)
Nunca tive interesse em dividir esse meu passatempo com ninguém. O link tá lá nos meus favoritos, pra quando eu tenho um tempo aqui no trampo pra coçar.
Meses atrás, tava no shopping com um amigo esperando o açaí ficar pronto, comentei desse blog. Comentariozinho besta. E qual não foi minha surpresa que esse meu amigo também lia o tal do goiano, e nunca tinha comentado com ninguém.
Enfim, acabamos passando uma tarde inteira falando dele. Como ele escreve bem, como os textos são pontiagudos, como a gente não queria que ele se matasse.
Comentário vai, comentário vem, meu amigo mandou um emeiow pra ele, que respondeu feito um Lord. Resposta bonita, inspirada, cheia de sentimentos. Uma coisa doida de se ler. No dia, eu lembro, deu até uma vontadezinha de abraça-lo.

Entenda que eu "conhecia" o rapazinho a pelo menos 2 anos. Sabia do noivado, das tentativas de suicídio, dos livros que ele leu, dos filmes que ele viu e dos contos que escreveu (tá, falando assim parece que o blog é um diáriodeumgoiano. Não não é, mas a gente consegue saber MUITA coisa lendo a "ficção" alheia), e nunca tinha visto a cara do rapaz. É claro que depois de tanto tempo, fui criando um goiano pra mim.
Eu, que sou prevenida e achava que em alguns momentos ou fases as coisas não encaixavam bem, criei DOIS goianos.
O primeiro - óbvio até o talo - era alguma coisa próxima ao Bukowski. Um rosto enorme, marcado de espinhas e uma pança proeminente. Um olhar triste e xucro, duro, azedo.
O segundo - que eu achava, mais próximo da realidade - tinha um lance meio nerd. Um garoto meio magro, quieto, misterioso.

Legal né?!
Pois é, a magia se foi.

A tecnologia que, dizem por aí, existe pra aproximar as pessoas, tornar a informação mais acessível e blábláblá, também serve, descobri, pra acabar com o mundo da imaginação.
Orkut meu bem, orkut.
Não, eu não fui atrás do maldito goiano no Orkut. Mas aquele meu amigo lá de trás, que - heterossexual obviamente - inacreditavelmente me disse, tempos atrás: "aposto que é um gordinho apanhão", o encontrou e fez questão de mandar o link pra mim.

Um gordinho apanhão.

Com direito a sorriso cretino, olhar de cão beagle, cabelo repartido no meio, jeito de naescolamejogavamnalatadelixo e, pasmem, scraps melados pra noiva, argh!

Tá, tá, eu sei que isso não devia interferir na satisfação que um dia eu tive de ler o blog.
Afinal de contas, eu juro, nunca tive fantasia sexual com ele. Nunca desejei ir à goiania encontra-lo. Nunca, nunca, nunquinha, suspirei com aqueles textos melancólicos.
Mas eu broxei. Juro, broxei. Comecei a achar aquilo tudo forçado demais, sem graça demais, chupinhado demais.
Continuo entrando pra saber das novidades e tals, costume antigo não dá pra largar mão assim. Mas aquela satisfaçãozinha já não existe mais.
Sei lá, ele tem cara de ter a língua presa. Aaaaaaaaaargh!

Pra não deixar na curiosidade:
http://canissapiens.blogspot.com

E eu continuo respondendo. "Uma personalidade? Um ídolo? Alguém que eu admiro? Arnaldo Jabor. Há!"

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